sábado, 19 de março de 2011

A FESTA DE PESSACH (PÁSCOA) E O MUNDO

Em Yochanan/João 13 temos:

1 Antes da festa de Pessach, sabendo Yeshua que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, e havendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.
2 Enquanto ceavam, tendo já Satan posto no coração de Yehudá, filho de Shimon do litoral de Sk’irot, que o traísse,
3 Yeshua, sabendo que o Pai lhe entregara tudo nas mãos, e que viera de Elohim e para Elohim voltava,
4 levantou-se da ceia, tirou o talit e, tomando uma toalha, cingiu-se.
5 Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos talmidim, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido.
6 Chegou, pois, a Shimon Kefá, que lhe disse: Senhor, lavas-me os pés a mim?
7 Respondeu-lhe Yeshua: O que faço, tu não o sabes agora; mas depois o entenderás.
8 Tornou-lhe Kefá: Nunca me lavarás os pés. Replicou-lhe Yeshua: Se eu não te lavar, não tens parte comigo.
9 Disse-lhe Shimon Kefá: Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça.
10 Respondeu-lhe Yeshua: Aquele que se banhou não necessita de lavar senão os pés, pois no mais está todo limpo; e vós estais limpo, mas não todos.
11 Pois ele sabia quem o estava traindo; por isso disse: Nem todos estais limpos.
12 Ora, depois de lhes ter lavado os pés, tomou o talit, tornou a reclinar-se à mesa e perguntou-lhes: Entendeis o que vos tenho feito?
13 Vós me chamais Rabino e Senhor; e dizeis bem, porque eu o sou.
14 Ora, se eu, o Senhor e Rabino, vos laveis os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros.
15 Porque eu vou dei exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.
16 Amen, Amen, e eu vos digo: não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou.
17 Se sabeis estas coisas, benditos sois se as praticardes.


INTRODUÇÃO

O contexto da passagem bíblica acima é a Festa de Pessach (Páscoa), que é cheia de simbolismos sobre a nossa libertação. Além dos ensinamentos sobre humildade que já aprendemos sobre este texto, narrado por Yochanan (João), o emissário (apóstolo), gostaria de acrescentar mais uma lição muito importante que nosso Adon (Senhor) Yeshua, o Mestre do Caminho, nos trouxe naquela ocasião, e que tem relação ao nosso trato com o mundo.

Antes, porém, de apresentar esta lição temos que entender o que é o mundo e como ele nos influencia.

O QUE É O MUNDO?

Por mundo aqui não quero me referir a criação, como as montanhas, o mar, a terra, a natureza, as pessoas, etc, mas sim ao sistema que jaz no maligno (Yochanan Alef/1 João 5.19), que age por traz das coisas criadas e que tem como objetivo principal afastar o homem de seu Criador.

O governante deste mundo é o Adversário, a quem Yeshua chamou de príncipe deste mundo (Yochanan/João 12.31; 14.30; 16.11) e Sha'ul, o emissário, de deus deste século (Curintayah Beit/ 2 Coríntios 4.4).

É sobre este mundo que estou me referindo. Algo que é espiritual e que tem poder para atuar nos filhos da desobediência (Efessayah/Efésios 2.2), principalmente, criando cegueira espiritual (Curintayah Beit/ 2 Coríntios 4.4), mas que também consegue enredar muitos dos filhos do Altíssimo, como veremos mais adiante.

Posso até dizer, sem medo de errar, que a maior arma que o Adversário dispõe nos dias de hoje para a expansão de seu reino de trevas não é o pecado em sim mesmo, mas o mundo. Por que digo isso? Porque por meio do mundo ele pode fazer todos, santos e profanos, cumprirem a sua vontade.

COMO O MUNDO NOS INFLUENCIA?

Por meio do mundo o Adversário faz a sua propaganda e enreda cada vez mais aqueles que já estão em trevas a continuarem sua jornada em direção ao abismo.

Por meio do mundo ele engana os santos, desviando-os do Caminho e do serviço ao Eterno.

E como ele faz isso? O Adversário sabe que não pode oferecer ao povo santo a mesma mercadoria que oferece aos seus súditos, por isso procura enganar os Filhos da Luz por meio de coisas lícitas, mas que trazem consigo o poder de enredar e, assim, de nos afastar da comunhão com a nossa Fonte de Vida: o Mashiach (Messias) Yeshua.

E como isso se dá? Você já notou quão facilmente aquele sentido de proximidade do Eterno que obtemos em nossa devoção matinal, em nosso momento de oração e estudo da Palavra, se perde ao longo do dia?

Saímos para o trabalho ou para a escola, ou mesmo iniciamos as atividades domésticas, com um sentido gostoso de proximidade do Eterno, de centralidade nEle, com bons pensamentos e planos para o Reino, mas, ao longo do dia, tudo isso vai se perdendo aos poucos, a ponto de, ao fim da tarde, estarmos totalmente esgotados e sem ânimo para orar, estudar a Palavra e se reunir com a Kehilá (Comunidade/Congregação). Só queremos saber de sentar diante da TV e relaxar um pouco, não é mesmo?

Bem, é aí que mora o problema! Como disse antes, o mundo utiliza coisas lícitas para nos afastar da comunhão com o Eterno. Por comunhão aqui eu não me refiro a nossa posição no Mashiach como membros de Seu Corpo, mas sim a nossa relação prática com Ele, manifesta nas coisas que fazemos e que nos ajudam a nos envolver com Ele e com Seu Reino, como: a oração, o estudo da Palavra, os louvores, etc. Ou seja, aquilo que faz com que Ele esteja presente de uma forma prática em nossa vida, ou, em outras palavras, o vivermos, o praticarmos, a nossa fé.

ENREDADOS

É aí que o mundo nos leva a nocaute sem sequer sentirmos. Quando vemos, aquele minutinho que queríamos passar diante da TV (ou internet, ou algo parecido) para relaxar um pouco, se transformou em horas e, quando damos conta, já está na hora de dormir para amanhã começarmos o ciclo todo novamente.

É importante entendermos que este cansaço, este desânimo, esta apatia toda não é puramente física e sim espiritual, uma vez que tudo isso só nos abate para as questões espirituais (esgotamento espiritual), mas não impede nem um pouco de ficarmos horas e horas mantendo contado com o mundo e com as coisas do mundo.

Então, de forma inconsciente (até mesmo anestesiada) deixamos de crescer no conhecimento de nosso Adon Yeshua, nos transformando a cada dia em talmidim (discípulos) que conhecem o seu Mestre apenas de “ouvir falar”, mas não o conhecem de uma forma prática e íntima.

E assim, aqueles que foram chamados de Luz do Mundo (Matitiyahu/Mateus 5.14) acabam sendo escurecidos e envolvidos pelas trevas do mundo.

A FESTA DE PESSACH E O MUNDO

Até aqui nos preocupamos em apresentar o problema, em entender a situação na qual muitos de nós estamos. Agora vamos falar sobre a solução do Eterno.

A base para nossa vitória sobre o mundo é a nossa confiança/fé em Yeshua (Yochanan Alef/1 João 5.4), Aquele que venceu o mundo (Yochanan/João 16.33), bem como nossa união/ligação com Ele, a nossa Fonte de Vida (Yochanan/João 15). Devemos entender (e não esquecer) que é por meio da fé/confiança em Yeshua que somos/fomos retirados do mundo e colocados nEle (Colossayah/Colossenses 1.13; Yochanan/João 15.19) e, como Ele não é do mundo (Yochanan/João 8.23), nós passamos a não ser também (Yochanan/João 17.16).

Como disse antes, a festa de Pessach é cheia de simbolismos sobre a nossa libertação do Egito (uma figura do mundo nas Escrituras) e de seu Faraó (uma figura do Adversário). O sangue do Cordeiro possibilitou o nosso resgate, ao mesmo tempo que trazia juízo sobre o todo o Egito e seu governante. As águas do Mar dos Juncos (Mar Vermelho) é uma figura da nossa tevilá (batismo), que representa o nosso compromisso de vivermos mortos para o pecado e vivos para Elohim (vide o nosso artigo anterior A VERDADE SOBRE AS ALMAS PENADAS), bem como a nossa consciência de que o nosso mundo anterior foi afogado nas águas de onde apenas nós emergimos, e que agora o mundo está executado para nós e nós para o mundo  (Galutyah/Gálatas 6.14).

Com tudo isso, porém, o problema não acabou. Nós, apesar de não sermos do mundo, ainda estamos nele (Yochanan/João 17.11), e o nosso caminhar por aqui traz consequências para nós, pois, assim como é impossível andarmos no mundo físico sem ficarmos com os pés, os calçados, cobertos pela poeira da terra, também não podemos caminhar no mundo, o reino do Adversário, sem as devidas consequências.

Por conta dessas consequências (essa poeira) nosso Adon nos ordenou que lavássemos os pés uns dos outros (enfim cheguei ao texto de Yochanan/João 13). Ou seja, Ele quer que cada um de nós, talmidim, sejamos instrumentos de remoção da poeira do mundo que obscurece o nosso brilho. Ele quer que nós, assim, nos ajudemos e edifiquemos mutuamente (Efessayah/Efésios 4.16) no Caminho, para crescermos e brilharmos como Ele, que brilhou (e ainda brilha) no mundo.

Só quem está se sentindo ou já se sentiu assim empoeirado, abatido (não por causa de pecados), é quem sabe como é importante um abraço amigo, uma palavra de encorajamento, um olhar amoroso, uma oração, de um irmão, de uma irmã. Sim, tem que ser de alguém que esteja seguindo o Caminho, pois só a estes Yeshua deu o poder de limpar a poeira de nossos pés e devolver o brilho de nossas vidas (o abraço, o sorriso, as palavras de quem está no mundo só fazem nos empoeirar mais).

CONCLUSÃO
Chaverim vachaverot (amigos e amigas) este é um ministério em que todos nós temos  parte. Todos os que já foram limpos por Yeshua devem não só lavar, mas terem seus pés lavados. Esta é uma mitsvá (mandamento) que o Mestre nos deixou. Que nesse Pessach possamos nos lembrar da grande responsabilidade e do grande privilégio que nos foi dado por Ele, de ajudar nossos irmãos e irmãs a manter o brilho durante todo o Caminho. Nas palavras do Mestre...

Se sabeis estas coisas, benditos sois se as praticardes.

Chag Pessach sameach!
Feliz Festa de Pessach!

Com amor,
Yossef ben Yossef
(Lauro Franco)