quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O DISCÍPULO E O CAMINHO

13Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), 14porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela.
(Mt 7.13,14)

Como alguém que já passou pela porta (Jo 10.9) deve percorrer o caminho (Jo 14,6)?

Antes de responder a esta pergunta é necessário lembrar que este alguém que passou pela porta – por meio da fé no Messias Yeshua [Jesus, o Cristo] e a confissão de Seu Nome – é chamado de discípulo [talmid, em hebraico], entre outros nomes, nas Escrituras.

Um talmid do 1º século não era alguém que tinha como meta apenas saber o que o seu rabino, o seu mestre, ensinava ou pensava. O objetivo do discípulo era ser como o seu mestre.

Logo, um discípulo de Yeshua, o Messias, não era alguém que se limitava a professar sua fé nEle, mas alguém que O seguia para ser como Ele é.

E assim como os demais talmidim [plural de talmid, discípulos] do 1º século em sua relação com seus rabinos, os talmidim de Yeshua também procuravam ser como seu Mestre e não meramente saber o que Ele pensava ou ensinava.

Para tanto o talmid procurava viver o mais próximo possível de se mestre, até mesmo morando com ele. Assim ele poderia não só ouvir as lições de seu mestre como também ver como Ele praticava a obediência ao Eterno em seu dia a dia.

As tarefas principais de um discípulo eram, basicamente, memorizar as palavras de seu mestre, já que os rabinos não costumavam escrever livros, imitar os exemplos de seu mestre, para ser como ele, e fazer discípulos, para que as palavras de seu mestre fossem transmitidas a outros.

Nosso Mestre, nosso Rabino, é o Messias Yeshua e se somos realmente Seus discípulos temos que imitar os nossos antepassados e seguir os Seus passos.

E é observando a forma como Ele viveu neste mundo que iremos em busca da resposta para a pergunta inicial: Como alguém que já passou pela porta deve percorrer o caminho?

Como Yeshua andou? Obedecendo a vontade do Pai, como a Palavra nos ensina:

Disse-lhes Yeshua: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra.
(Jo 4.34)

Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O meu juízo é justo, porque não procuro a minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou.
(Jo 5.30)

Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou.
(Jo 6.38)

Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço.
(Jo 15.10)

Não é a toa que o nosso Mestre disse que o caminho era apertado, em contraste com o caminho do mundo, que é espaçoso.

E por que é apertado? Porque é um caminho de obediência. Não podemos escolher a forma como queremos andar nele, mas devemos seguir os passos daquele que é, Ele mesmo, o Caminho.

Quando andamos neste Caminho da obediência somos transformados cada vez mais na imagem de nosso Mestre, o Messias Yeshua, na mesma proporção que deixamos de nos parecer com o mundo.

Este processo de seguir pelo caminho apertado da obediência ao Eterno é chamado de tikun (que quer dizer retificação no caso, retificação da alma), no judaísmo, e santificação, no cristianismo.

Todos os que passaram pela porta devem trilhar este Caminho de retificação/santidade.

...aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou.
(1 Jo 2.6)

É por meio da santificação que iremos alcançar o objetivo para o qual fomos colocados neste Caminho, que é também o objetivo de todo o discípulo: A conformidade ao Mestre.

Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.
(Rm 8.29)

Ao contrário do que muitos pensam o objetivo maior da salvação não é a vida eterna ou a morada na Nova Jerusalém. Isto é a consequência. Somos salvos com o propósito de sermos conformados à imagem do Messias Yeshua.

Para isto temos que viver com a consciência de que temos este alvo, este objetivo, porque se nos esquecermos dele não iremos a lugar nenhum. Andaremos em círculos e não iremos progredir, nem crescer, além de estarmos sujeitos a todo o tipo de frustração e fracassos.

E tanto o judaísmo como o cristianismo creem na necessidade da retificação/santificação como condição fundamental para a entrada no mundo vindouro.

O texto de Hebreus 12.14 é um verdadeiro pesadelo para aqueles que creem na “doutrina” do presente século de que basta levantar a mão pra Jesus na hora do apelo para ser salvo, independente da forma que o indivíduo irá viver depois deste gesto.

Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.

Alguns pensam que serão salvos mesmo vivendo uma vida sem qualquer compromisso com o Eterno e Sua Palavra.

Além do texto de Hebreus seria interessante a leitura também de Mt 7.22,23, Ef 5.5 e 1 Jo 3.9, entre outros.

Alguns podem citar Jo 10.28 argumentando que Yeshua afirmou que ninguém iria arrebatar as Suas ovelhas de Suas mãos, no entanto se esquecem que, antes, Ele identificou as Suas ovelhas como sendo aquelas que ouvem a Sua voz e O seguem (Jo 10.27).

Todos que passaram pela PORTA devem seguir o CAMINHO!

Não é opcional.

Então, como alguém que já passou pela porta deve percorrer o caminho?

Andando em santidade de vida, tendo a consciência de que foi salvo – colocado no Caminho – para ser tornar semelhante a Yeshua, o Messias.

E como é fácil para nós nos esquecemos de algo tão importante – que temos que percorrer o caminho da santidade a fim de que a imagem de Yeshua seja formada em nós.

Nossa atenção é dispersa diariamente por conta de outros assuntos – espirituais ou seculares – que vivem ocupando as nossas mentes.

A cada domingo tem uma pregação com uma ênfase nova sobre algo a ser praticado.

A cada shabat tem um estudo da Torá com uma lição nova pra ser vivida.

Isto fora os diversos assuntos seculares que pedem a nossa atenção diariamente.

O problema não está no assunto da pregação, na porção do estudo da Torá ou mesmo nos assuntos do dia a dia, e sim em desviarmos a nossa atenção do propósito maior ao lidarmos com todas estas questões.

Tanto a pregação, o estudo da Torá e até mesmo os problemas da vida, são meios para atingirmos o alvo e deveríamos olhar para eles como sendo ferramentas que o Eterno coloca no Caminho para nos moldar à imagem de Yeshua, o Messias.

Quando nos esquecemos do alvo, deixamos de valorizar os meios e até mesmo passamos a murmurar contra eles.

Se conseguirmos ver o alvo, podemos repensar a nossa vida de forma a buscar alcançá-lo.

Seguindo o exemplo de Sha’ul, o emissário, devemos prosseguir para conquistar aquilo para o que também fomos conquistados pelo Messias Yeshua. Devemos nos esquecer das coisas que para trás ficam e avançar para as que diante de nós estão, prosseguindo para o alvo (Fp 3.12.14).

Sem termos e vermos o alvo não iremos a lugar nenhum.

É por não termos uma visão clara deste objetivo (ou nos esquecermos dele) que muitos de nós vivemos andando em círculo, sem progresso no Caminho e sem cooperar com o Eterno no desenvolvimento de nossa salvação, que teve início no Calvário.

Novamente digo:

AQUELE QUE PASSOU PELA PORTA DEVE PERCORRER O CAMINHO.

E tudo começa com a visão clara do alvo, do objetivo, que temos que alcançar.

Mas o que devemos fazer em termos práticos, em nosso dia a dia, para alcançarmos este objetivo?

Com certeza deverá ser algo que nos tire da inércia espiritual onde nos encontramos atualmente. Ou seja, a resposta para esta pergunta, seja ela qual for, com certeza não será algo tão pequeno que não absorva a nossa atenção, dedicação, motivação e expectativas.

A resposta a esta pergunta, seja ela qual for, deve redefinir as nossas prioridades de vida e estar presente nas rotinas mais básicas de nosso dia a dia.

Para alcançarmos o alvo é fundamental investirmos tempo em nossa relação com o Eterno.

Pra isto temos que rever as nossas prioridades.

É certo que não há como crescermos sem nos alimentarmos com a Palavra do Eterno, do Gênesis ao Apocalipse.

Muitas pessoas dizem que não gostam da Lei [a Torá = Instrução, o Pentateuco] e pensam nela apenas como uma porção da Bíblia que só fala de sacrifícios de animais. Tais pessoas desconhecem que a Torá é a base, o alicerce de toda a Palavra de Elohim.

É lá que aprendemos que só podemos ter um só Elohim, que temos que honrar nossos pais, que não podemos roubar ou assassinar, etc.

É a Torá que nos ensina como amar a Elohim a ao nosso próximo.

Se olharmos para a história de Israel na Bíblia veremos que seus períodos de abundância ou escassez, vitórias ou derrotas, estão diretamente ligados a obediência ou transgressão da Lei [Torá].

Não é a toa que o Salmo 1 inicia dizendo que feliz é aquele que tem o seu prazer na Lei do Eterno e nela medita de dia e de noite (Sl 1.1,2).

E, se retificação de nossa alma é o que queremos, veja o que diz o Salmo 19.7:

A Torá de Yahweh é perfeita e restaura a alma.

E Sha’ul, o emissário, escreveu o seguinte, em Rm 7.14:

Porque bem sabemos que a lei é espiritual...

Com estes testemunhos da Palavra fica complicado entender que pessoas que professam a fé em Yeshua digam que não gostam da Lei.

Mas, além de termos que encontrar tempo para conhecermos o Eterno e Sua vontade, por meio de Sua Palavra, temos também que investir tempo na oração.

Neste ponto creio que o judaísmo tem larga vantagem sobre o cristianismo, já que os judeus estabeleceram 3 momentos diários de oração – de manhã, à tarde e após o anoitecer – que procuram seguir com regularidade.

O cristão pode pensar que está em vantagem, pois pode orar a qualquer hora, ou mesmo “orar sem cessar” (1 Ts 5.17), mas essa aparente vantagem acaba sendo mais um empecilho do que uma motivação, que resulta no fato de que a grande maioria dos cristãos não passa sequer um período de 1 hora diária em oração.

Mas, por quê? Porque, de posse da liberdade para orar a hora que quiserem, muitos cristãos deixam de orar de manhã porque não tem tempo. Adiam a oração para a tarde, mas essa também é adiada, já que eles estão ocupados. Deixam pra orar de noite, mas aí estão cansados. De madrugada, então, nem pensar. Acaba sobrando o domingo, na igreja.

Enquanto isso, alguns judeus, além dos 3 serviços diários de oração, ainda praticam uma forma não estruturada e espontânea de oração e meditação chamada de Hitbodedut (auto isolamento, em hebraico), que consiste, basicamente, em se isolar em um ambiente privado durante um tempo (em geral 1 hora), diariamente, para falar com o Eterno de forma espontânea, como se fala com um amigo, sobre todo tipo de assunto – o nosso dia a dia, nossas expectativas, dúvidas, angústias, alegrias, dificuldades, vitórias, derrotas, desejos, etc.

Hitbodedut me faz até lembrar das Palavras de Yeshua, em Mt 6.6 e 26.40:

Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.

Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo?

Não sei como você irá fazer (ou mesmo se irá fazer), mas sem encontrar tempo para estudar a Palavra (lembrando que os discípulos até memorizavam as Palavras do Mestre) e andar com o Eterno (os discípulos viviam o mais próximo possível do Mestre) não será possível alcançar o alvo: a conformidade à imagem de Yeshua (Rm 8.29).

Este é o nosso objetivo no presente momento. Todos os demais – o louvor, a adoração, a pregação, o anúncio do Reino – dependem dele.

Corramos, então, meus irmãos e minhas irmãs, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para Yeshua, o Autor e Consumador da fé (Hb 12.1,2).

Talvez a mensagem deste artigo não seja popular em meio a uma geração que foi ensinada a viver uma fé tão superficial que nem mesmo deveria ser chamada de fé bíblica.

Mesmo correndo este risco resolvi escrever estas linhas e que o Eterno faça uso delas conforme a Sua vontade.

E que a Ruach HaKodesh [Espírito Santo] possa operar em nós a fim de que, por nossas vidas, o Nome do Messias Yeshua possa ser glorificado.

Que Yahweh a todos abençoe!

Yossef ben Yossef

(Lauro Franco)