INTRODUÇÃO
Antes de dar início ao
tema proposto desta meditação quero explicar o que significa a palavra “teshuvá”,
bem como definir o seu uso neste artigo.
Comumente traduzida por “arrependimento”
nas Bíblias em português, a palavra “teshuvá” vem do hebraico e significa
“retorno”. No caso, retorno a Torá (Instrução/Lei). Nos movimentos judaicos e
israelitas que creem que Yeshua é o Messias usamos esta palavra para identificar
aquelas pessoas que já enxergaram que não há conflito entre a Torá
(Instrução/Lei) do Eterno e a Chessed (Misericórdia/Graça) do Eterno e, por
isso, estão buscando moldar suas vidas de acordo com os mandamentos, estatutos
e juízos (mitzvah, chuqym, mishpatym) contidos na Torá, contando, para tanto,
com a graça do Pai.
Com esta breve explicação,
vamos ao tema de nosso artigo.
Quero iniciar já manifestando
aquele que considero o maior perigo que podemos encontrar neste Caminho de
Teshuvá:
O PERIGO DE
NEGARMOS O MESSIAS YESHUA.
Por negar aqui, não me
refiro apenas o apostatar da fé nEle (o que, lamentavelmente, tenho visto
muito, ultimamente), mas também o negar a Ele o primeiro lugar em nossas vidas.
Abaixo irei listar alguns
erros que podem nos conduzir a este grande perigo:
1. O FASCÍNIO PELAS “COISAS JUDAICAS”
Sobre este fascínio,
Sha’ul, o emissário (apóstolo Paulo), escreveu o seguinte, para as Comunidades (Igrejas)
da Galácia:
Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros,
ante cujos olhos foi Yeshua, o Messias, exposto como executado no madeiro?
(Gl 3.1)
Quando alguém começa a
fazer teshuvá e tem contato com os serviços (os cultos) nos moldes judaicos e
vê toda a reverência, as pessoas usando talit/simlah (o manto de oração), kipá
(uma cobertura para a cabeça), tefilim (filactérios), orando em hebraico usando um Sidur (livro de orações), fica fascinada com tudo aquilo, ainda mais em tempos de tanta aridez e irreverência que há em desertos como o do cristianismo dos séculos XX e XXI, de onde a maioria de nós saiu.
O problema não está em si
no uso de tais coisas, até porque algumas delas são mandamentos bíblicos, mas sim
em não entendermos que elas devem ser utilizadas como meios para se alcançar um
fim, um objetivo, que é a semelhança ao Messias Yeshua.
Porque o objetivo da Torá é o Messias...
(Rm 10.4)
Quantas pessoas nós
conhecemos que abandonaram a fé no Messias Yeshua por conta do fascínio pelas
“coisas judaicas”? Maior ainda, no entanto, é número daqueles que estão negando
a Ele o primeiro lugar em suas vidas.
2. O ERRO DE QUERERMOS
NOS SALVAR* POR NOSSA PRÓPRIA FORÇA
(*Por
salvação aqui eu não me refiro ao perdão dos pecados, mas a continuação do
processo iniciado pela remissão dos pecados, ou seja, a nossa libertação do
poder do pecado)
Parece
que as Comunidades da Galácia também estavam sofrendo tal erro, que está
totalmente ligado ao erro anterior.
Sois assim insensatos que, tendo começado na
Ruach, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?
(Gl 3.3)
Hoje em dia tenho a
impressão de que muitos dentre nós estão crendo que podem cumprir o que a Torá determina
apenas pelo fato de conhecê-la. Ou seja, não obedecíamos antes porque não
conhecíamos, já que pensávamos que ela tinha sido abolida, mas agora, que
sabemos que ela não foi abolida, podemos obedecê-la, já que a única barreira
para o seu cumprimento foi removida, ou seja, a nossa ignorância sobre ela.
Contrariando esta crença,
temos as seguintes palavras inspiradas de Sha’ul, o emissário:
Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não
habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo.
(Rm 7.18)
Ou seja, não há em nós
capacidade natural de cumprirmos o que a Torá exige de nós. Por quê?
Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não
quero, esse faço.
Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na Torá
de Elohim; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a Torá
da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros.
(Rm 7.19, 22 e
23)
Posso estar enganado, mas
tenho a impressão de que, no entendimento de muitos, o perdão dos pecados é
obra do Messias Yeshua, mas a separação (santificação) é algo unicamente de
nossa inteira responsabilidade.
No entanto, vejamos o
Sha’ul, o emissário, escreveu em 1 Co 1.30:
Mas vós sois dele, em união ao Messias Yeshua, o qual se
nos tornou, da parte de Elohim,
sabedoria, e justiça, e santificação, e
redenção...
É claro que temos grandes
responsabilidades quanto a nossa santificação, tanto que o mesmo emissário nos
orienta, em Fp 2.12, a desenvolver a nossa salvação/libertação com temor e
tremor, mas também conclui dizendo que é Elohim quem opera em nós para tanto
(Fp 2.13).
Para a eficácia de nossa
santificação a nossa carne tem que ser tratada e para isto não adianta sabermos
mais mandamentos, uma vez que o pecado que nela habita faz uso do mandamento
para despertar em nós toda a forma de cobiça.
Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou
em mim toda sorte de concupiscência...
(Rm 7.8)
Será, então, que há algum
problema com a Torá? Com certeza, não. O problema está em nós, em nossa carne.
Porque bem sabemos que a Torá é espiritual; eu, todavia,
sou carnal, vendido à escravidão do pecado.
(Rm
7.14)
Diante do exposto, o que
tem me preocupado mais é o fato de estar vendo muitas pessoas neste Caminho estudando
a Torá e buscando cumprir as suas exigências sem, no entanto, buscar a
capacitação para tanto no Messias Yeshua. Parece que a nossa fé nEle se
resume ao perdão que recebemos por meio de Seu sangue. Esquecemo-nos de Sua habitação
em nós.
Ou não reconheceis que Yeshua, o Messias, está em vós?
(2 Co 13.5)
E Ele habita em nós
exatamente para formar em nós a Sua imagem e nos capacitar a cumprirmos a Sua
vontade, a Sua Torá.
O que nos leva ao próximo
erro:
3. O ERRO DE NÃO CONSIDERAMOS
O MADEIRO
Talvez a origem deste
erro seja o fato de termos ouvido e recebido apenas a metade das boas novas, ou
seja, que o sangue do Messias Yeshua nos purifica de todo o pecado.
No entanto, quando o mal’ach
(mensageiro, anjo) foi ter com Yossef (José) ele disse que o Messias Yeshua salvaria/libertaria
o seu povo do pecado. Ele não disse que o Messias iria conceder somente o
perdão ao seu povo.
Se o sacrifício do
Messias Yeshua foi apenas pra nos conceder o perdão dos pecados, então a maior
diferença entre o Seu sacrifício e o sacrifício de animais é que o Seu
sacrifício não precisa ser repetido.
Logo, não seria uma
salvação/libertação plena, pois o pecado ainda habita em nós, em nossa carne, já
que ainda habitamos neste corpo de pecado e estamos sujeitos a todos os tipos de
tentações do mundo, da própria carne e do Adversário.
Por isso, para nos salvar/libertar
plenamente, o Messias Yeshua teve que tratar não só do problema do perdão dos
pecados, mas também do nosso “velho homem”, herdado de Adam (Adão), o
representante de nossa carne, que ama o pecado.
E o Messias Yeshua tratou
o nosso “velho homem” por meio do madeiro.
...sabendo isto: que o nosso velho homem foi executado no
madeiro com ele, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o
pecado como escravos...
(Rm 6.6)
Não adianta sabermos mais
mandamentos. Sem o tratamento do madeiro ao nosso “velho homem”, conforme
explicado por Sha’ul, o emissário, em Romanos 6 (recomendo a leitura e o estudo
de todo o capítulo), só iremos dar mais ocasião para a carne fazer uso do
mandamento para despertar em nós toda a forma de cobiça (Rm 7.8).
Não é a toa que o Messias
nos falou sobre a necessidade de levarmos o madeiro diariamente.
Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se
negue, dia a dia tome o seu madeiro e siga-me.
(Lc 9.23)
E qualquer que não tomar o seu madeiro e vier após mim
não pode ser meu discípulo.
(Lc 14.27)
Por que será que damos
tão pouca atenção para aquilo que, creio, é o ponto central de nossa fé, a
morte do Messias no madeiro?
Por terem cometido um ou
mais dos erros listados acima alguns acabaram tomando a decisão mais perigosa e
desastrosa neste Caminho de Teshuvá:
NEGAR O
MESSIAS YESHUA.
CONCLUSÃO
Não sei se todos que
estão lendo estas linhas estão cometendo, mesmo inconscientemente, os erros que
listei acima, que culmina em negar a Yeshua, o Messias. Lembrando que não
negamos o Messias apenas deixando de crer nele, mas também não dando a Ele o
primeiro lugar em nossas vidas.
O que escrevi neste artigo
é fruto daquilo que observei nos anos que estou neste Caminho de Teshuvá e creio
que muitos que estão lendo estas palavras podem atestar o que aqui foi escrito em
suas próprias experiências no Caminho.
Meu objetivo, chaverim
vachaverot (amigos e amigas), é alertar a todos sobre este grande perigo que nos
ronda e que já vitimou a muitos.
Em relação aos que estavam
caminhando conosco e que agora deixaram o Caminho, apesar da tristeza de não
estarmos mais caminhando juntos, tenho atentado para as palavras do Messias
Yeshua e de Seu emissário Yochanan (apóstolo João), e me consolado nelas:
As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e
elas me seguem.
(Jo 10.27)
Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos
nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco;
todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos.
(1 Jo 2.19)
Que o Eterno nos guarde deste
perigo com Seu grande poder.
Graça e paz a vós outros,
da parte de Elohim, o nosso Pai, e do Senhor Yeshua, o Messias.
Yossef ben Yossef
(Lauro Franco)